sábado, 31 de janeiro de 2009

Sobre a visita ao Ateneo

Sentada num dos muitos sofás coloridos do Ateneo de Madrid, ali, numa sala com exactos 125 anos de História, vi mais uma vez confirmado que o prazer de uma conversa não está em encontrar respostas mas apenas em levantar questões.

Foi organizada uma tertúlia com o propósito de desvendar se Deus existe ou foi inventado. Depois da troca de argumentos, a votação teve início e os ateus ganharam por um voto. Mas a alegria deles não durou muito. Ouviram uma voz na consciência que dizia “como podes dizer que uma coisa existe ou não existe sem a menor prova, a menor certeza?”A votação foi então anulada e todos continuam agora com a mesma incerteza de sempre.

Mas hoje, crentes e descrentes podem dormir descansados sabendo que tiveram a humildade suficiente para perceber que essa é uma das muitas perguntas do Universo para a qual ainda não foi encontrada resposta. A única diferença é que provavelmente os primeiros rezarão antes de dormir e os segundos não.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O nome dele é Sean Penn


Militar transtornado na segunda guerra mundial, militar sem carácter na guerra do Vietname, mafioso transformado em assassino por vingança "is that my daughter in there?", criança em corpo de adulto, segundo melhor músico de jazz do mundo, estranho doentemente apaixonado, criminoso no corredor da morte, irmão dedicado, etc etc. Soube ser tudo isto de todas as maneiras.

Dirigido por Woody Allen, Terrence Malick, Julian Schnabel, Brian de Palma, David Fincher, Alejandro Iñarritu, Clint Eastwood e Gus Van Sant (só para dizer os melhores).

Também dirigiu, e continuará a dirigir.

Coerente. Fiel a si mesmo no escândalo, na subtileza e nas conquistas.

De traços físicos fortes, dignos apenas daqueles que verdadeiramente merecem.

E eu posso até morrer de amores por Marlon Brando, James Dean, Paul Newman, Marcello Mastroianni, Gary Grant, Gregory Peck, Al Pacino, Robert de Niro, Adrien Brody, e tantos tantos tantos outros, mas ele será para sempre o meu preferido.

É provável que durante os próximos tempos seja lembrado como Harvey Milk, mas o nome dele é Sean Penn.




terça-feira, 13 de janeiro de 2009

2008/ 2009

Era assim que tinha que ser: Madrid, desconhecida há um ano atrás e palco de tanta emoção em 2008, era o cenário ideal para entrar no novo ano...
Mala feita, semana de férias pedida, assunto arrumado.

A capital não desilude. Torna-se maior cada vez que voltamos: foi assim em Fevereiro, em Março, foi assim em Novembro, foi assim agora.
Mas agora foi diferente. Foi uma certa sensação de ‘ser da casa’, uma personificação, um encher de rostos e de memórias a capital - torná-la nossa. Agora, Madrid são as tapas daquela casa sempre cheia da Chueca, é o mercadito de Fuencarral, é o metro em movimento sem que isso nos angustie – como se tivessemos vivido toda a vida naquela cidade. Madrid é a Prisa – o quarteirão da Prisa – a gritar-nos a nossa insignificância, somos nós – pequeninas – a espiar aquele 2º andar em busca de algo que desejamos que exista (não existe!). E é o Mohamed e as 24 horas non stop, na consciência forçada de que há vidas bem dificeis, os ciné princesa e o Vicky Cristina, o Strarbucks (o café e o chocolate de niños), o fondue (comida para um batalhão que não sobrou), o rosé das nossas vidas, o champagne aberto antes da hora, com karaoke e mensagens deixadas em gravadores portugueses. As conversas nocturnas sem dar-mos conta do tempo (as horas à volta dos mais feios, os dois minutos à volta dos bonitos), são as conversas dos do costume, os sonhos com a camioneta de excursões. E é a gripe da Sofia – a médica simpática e incompetente (menos de 38,5 toma um, mais de 38,5 toma dois), a natação sincronizada da Mi - qual selecção espanhola a conquistar medalhas, os italianos loucos e lluvia de cava.

Estamos em 2008, estamos em 2008 (nós em pé). Estamos em 2009... (nós no chão).
Não há superstições negativas nesta história: lluvia de cava só pode dar sorte. Primeiros dias maus? Está esgotado o stock-azar 2009!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O hábito (também) faz o filme


Vi Atonement há pouco menos de um ano e nunca vou esquecer o vestido verde com que Cecilia descobre o amor, materializa-o, sofre a traição da irmã e perde o amor da sua vida. Um simples vestido verde, que durante cerca de vinte minutos ilumina a tela e consegue gerar uma relação perfeita entre moda e cinema.

Ideia de Joe Wright, criatividade de Jacqueline Durran, postura e elegância de Keira Knightley.

Perfeito.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

km 0

Foram mais de 70 filmes, mais de 120 horas de cinema em DVD, grande ou pequeno ecrã, mais de 7000 minutos de altos e baixos para chegar até aqui.
Foi Gato Preto, Gato Branco, Persepolis, Cinema Paraíso, Ciência dos Sonhos, Primavera, Verão, Outono, Inverno...Primavera.
Foi um Brown Bunny impensável, de um Vincent Gallo improvável.
Foi Jarmusch x 3, a bordo de um Mistery Train, com uma pausa para Coffee and Cigarettes, no meio de Broken Flowers.
Foram os Coen - e a viagem a Fargo é para Queimar depois de Ler, ao contrário daquela a bordo de um Darjeeling Limited -, sempre os Coen a saber como fazer rir.
E o mestre Woody, uma semana antes com a dupla face de Melinda, uma depois com Vicky Cristina Barcelona (e a Penelope e o Javier e os cines Princesa e as palomitas. Hora 62 em Madrid).
Foi um Almodovar romântico em Carne Tremula e estupidamente sem rumo em Pepi, Luci y Bom... y otras chicas del montón.
Foi a trilogia de Van Sant - Gerry, Paranoid Park e Elephant - e a cruel decisão de eleger qual o preferido da triologia de Van Sant (Gerry?).
Foi um segundo olhar para Ang Lee (Comer, Beber, Homem e Mulher), foi um segundo olhar para Wong Kar-wai (2046) depois do difícil processamento das estreias... e a música de Dancer in the Dark e o recorde musical de quase três horas embrulhadas num cobertor de Les Uns et les Autres

il n'y a que deux ou troix histoires dans la vie des êtres humains, et elles se répétent ainsi cruellement que si elles n'étaient jamais allivés

E sim, foram as mulheres na Swimming Pool de Ozon, o regresso ao gigantesco Mar Adentro com a ajuda do Escafandro e da Borboleta , a descoberta dos Savages e as noites sem dormir depois do Orfanato.

120 horas resumidas em duas frases (Vanilla Sky madrugada dentro, Vanilla Sky da minha banalidade):

It's been a brilliant journey of self-awakening. And now you've simply got to ask yourself this: What is happiness to you?

I'll tell you in another life...when we are both cats.