quinta-feira, 26 de março de 2009

A superioridade moral



Dickie: Jeannie, you wanna hear a secret, huh?
Oh, Jeannie, I don't give a damn about racial, religious...moral, economical, political problems.

Jeannie: That makes two of us.

D: Eating meat disturbs me.

J: Right.

D: Can you imagine raising poor little chickens, steers and lambs... to fill our tummies?
Now, there's a problem and nobody cares.

J: Right.

D: Right? Huh? Right.

J: Right.

D: They take all the wool off the lamb, and then we eat it.

J: Oh, Dickie.

D: What is all this holier-than-thou crap that they hand us?
You know what I think?
I think we were all created evil!
Then some... some wise guy... some, uh... a left-winger or a... a union organizer comes along and tells us that we all were created good.
We were all created in his image.
Right?

J: Wrong.

D: Hey, Jeannie.
Jeannie, come here.

Faces, John Cassavetes

sábado, 14 de março de 2009

La Siesta

Posso não ser espanhola mas acabo de acordar de uma siesta em pleno parque do Retiro. Dormir foi o melhor antídoto contra a raiva de mim mesma por não saber tirar fotografias e encontrar-me rodeada de coisas que deviam e mereciam ser bem fotografadas. É um dia de sol de Março, a relva do Retiro serve de cama a centenas de jovens iguais a mim, uns acompanhados, outros sozinhos, todos vestidos como se estivéssemos em Agosto, todos bonitos à sua maneira. Sem máquina de fotografar nem perícia técnica, lá me deito na companhia de José Saramago. Quando abro os olhos e volto ao estado desperto, metade dos jovens desapareceu e a minha raiva de não ser fotógrafa também já foi embora. Estou contente por não ser espanhola mas ter acabado de acordar de uma siesta em pleno parque do Retiro.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Quem são os teus realizadores preferidos?



Sempre que me perguntam, e eu não posso (nem quero) fugir à questão, digo que os meus realizadores preferidos são Alfred Hitchcock e Woody Allen. De todas as vezes que respondo, sinto que sou tão injusta com tantos outros realizadores, que nem sequer tenho direito de os mencionar aqui. Por isso, vou falar exclusivamente dos citados.
Hitchcock representa o realismo ficcional (contradição que funciona quando devidamente embelezada, como é o caso), o suspense, o classicismo noir, a metáfora impertinente, a crítica à sociedade (que é, antes de mais, uma crítica a cada pessoa que assiste aos seus filmes), a ironia subtil. Woody, por sua vez, tem um carácter cómico, inserido numa conjuntura dramática à qual não se pode escapar. É o humor inteligente, é o tipicamente humano, o racional que não sobrevive sem o instintivo, o equilíbrio que só transparece pelo desequilíbrio, o jogo constante dos relacionamentos, de amor, sexo e decepções.
Alfred e Allen juntos, sendo tão diferentes, são generosos o suficiente para reunir vários dos elementos que mais me entusiasmam em um filme. Não conseguiria viver só de Psycho, The Birds, Manhattan e Annie Hall mas posso dizer que já fui BEM feliz com eles.

sexta-feira, 6 de março de 2009

el comienzo es el final

de modo que me sinto de novo no princípio. Tens obrigação de ir mais longe.
E nem que deixe a pele nessa luta hei-de ir. Nem que deixe a pele é um eufemismo: deixo-a mesmo. E sem pele continuo.

Se perder os pés continuo com os cotos, se não houver cotos continuo com as unhas, se não houver unhas continuo com os dentes. Não pretendo ensinar nada, mostrar nada, ajudar nada: apenas me preocupa atingir o coração do coração e iluminar tudo. Até cegar de tanto ver.

E, uma vez cego, paro e deito-me. Acabou-se a viagem.


António Lobo Antunes

segunda-feira, 2 de março de 2009

F-D-S

No sábado, conheci o Krishna. Ele toca uma espécie de flauta transversal, tem o dom da omnipresença, e é azul.





No intervalo que vai de um chocolate Ice Bombom, a um Ice Tea Blanco, para nós, cada vaca era um flash.

Em pleno Banco de España, rodeamo-nos de estatísticas, gráficos e milhares de milhões de euros.

O fim de tarde foi passado na Casa Árabe, que dizem dar a Madrid um pedacinho de Granada, que por sua vez dá a Espanha, um pedacinho do mundo árabe.

A noite acabou em Malazaña. Sem comentários.

No Domingo, 2 de Março, a jornada continua. Como a Sofia tão bem as descreve: “merdas utópicas” na Ronda de Valencia.

Admiração pelo trabalho de Josef Svoboda, presente no Teatro Fernán Gómez.

Fomos a tempo de tirar fotos à gigantesca bandeira espanhola na Plaza Colón. Mas melhor mesmo foi o “aceno” surpreso ao Pep Guardiola, que passava dentro do autocarro do Barcelona rumo ao Vicente Calderón.

A fundação Mapfre foi o último destino (não fosse a porta da Telefónica estar fechada) e lá revimos Picasso, conhecemos Max Ernst e consolidamos com Nicholas Nixon a ideia de que o tempo tem um efeito irrefutável em todos nós.

Desde a Gran Via com direcção ao Príncipe Pio, a certeza boa de que na semana seguinte haverá mais um fim-de-semana assim. Porque “todo el comienzo es el fin”.